sexta-feira, 4 de maio de 2007

A Pornografia do Goleiro de Costas para o Gol

03/maio/2007

http://www.trivela.com/default.asp?pag=ExibirMateria&codMateria=2475&coluna=25

Todos comentam o gol com o goleiro de costas. Foi, sumário, parar no boteco, na marmita, na mesa do feriado do dia do trabalho em que se descansa.


Tão ridículo como o outro goleiro que deixou a bola no chão para discutir com a zaga e tomou o gol; como a plástica bicicleta do lateral esquerdo da seleção brasileira na Copa de 1998 no jogo contra a Dinamarca, que mereceu foto por acertar tudo menos a bola; como o treinador que vai conversar violentamente contra a arbitragem e acaba violentamente rechaçado pela força policial; do arbitro que se confunde a contagem dos pênaltis e acaba tendo que dividir o título. Tão ridículo não, mais.


Mexeu tanto que os comentários bradaram a falta de respeito, de atenção, de vergonha na cara... Os comentaristas seguiram no mesmo tom. Só viam risadas do lado do maior adversário que, aí, agradecia e aproveitava para memorizar cada detalhe que vinha pela câmera da televisão.


Câmera que, aliás, foi pega no contrapé com o inesperado da jogada. Depois de tanto buscar, arrumaram a câmera superior, perdida no recomeço da partida, que flagrou tudo. O futuro ex-selecionável volta calmamente para a sua meta com 3 a 0 no placar. Mais do que calmamente, ele traz os ombros caídos, a cabeça no chão, os três primeiros gols no bolso. A imagem não tem som, mas parece que o único berro só o alcançou quando a bola já passa por sua perna e ele vira a cabeça para ver o atacante que comemora.


Uma faixa, no dia seguinte, pediu a cabeça do goleiro. “Piruzeiro aqui não”, ou algo assim. Era o nome mais xingado, mais detestado pela dezena de milhares de torcedores azuis. Os comentaristas seguiram de novo. Um acinte à memória do Cruzeiro, esse time de glórias mil, de Tostão, de Plasman, etc e etc... Chegaram até a questionar o interesse do selecionador maior, mas não passou de insinuação com baixa possibilidade de processo legal.


O que incomoda, na passividade do outro lado da tela, é entender como a falha é mais pornográfica do que o clube indefinidamente na mão de um pequeno grupo, um clube que vende e revende os jogadores a baciada, a falta de estrutura dos estádios que trata como gado quem se comporta como gado e mesmo quem se comporta como gente, uma imprensa com interesses claríssimos em vender idéias, jogadores, preconceitos.


No final, só sobra a sensação: o torcedor brasileiro que caminha calmo, decepcionado com tudo, incapaz de ver a bola que lhe corre do lado para mais um tento na goleada.

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